segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A razão é só ilusão

E disse mais uma vez o poeta:
"Ninguém morre por morrer,
morre por ter deixado a alma morrer."
Os olhos só vem aquilo que querem ver,
a boca só fala oque o coração tem a dizer.
Caminhamos apenas por medo de ficarmos parados,
morremos sentados, calados,
sem sentir, nem ouvir, nem saber,
e sem tudo isso, acabamos sem ser.
Somos!
Uma mera imagem 
que reflete o tempo passado, e se conecta com
oque não se vê.
Se sabemos que existe,
se persistimos em acreditar que por detrás de cada coração, 
existe uma noção 
ilusória da razão,
não passamos de uma fonte escassa de, nada mais e nada menos, 
do que apenas pedras que rolam 
até a base do infinito.
Girando em uma rota infinita,
que não possuí um começo e nem um fim,
e se existir o alcance final, 
o que nos resta é o nada,
é apenas aquilo que foi,
e por isso é !
Só ingerimos uma vez,
aquilo que se fala,
e aquilo que se fala,
só atinge, e só afeta, uma vez,
as artérias do sentimento.
A profundidade de cada toque suave se acumula 
em uma gigantesca vontade.
Ímpeto de movimentos constantes. 
Todos nós corremo atrás dos nossos
próprios rabos, que escapam a nossa visão.
( não ) sabemos olhar pra frente se existem abas!
Atrás sempre vem gente, e não sabemos como
dizer adeus, até que saibamos 
o que fica, e o que vai, nessa morte sentimental,
onde os olhos, ficam abertos, e as mãos não.
Falemos não, a cada palavra cuspida pelo vento,
nos obrigando a seguir.
Paremos!
Não mais.
Porque vontade
não é mais querer, 
e sim, fazer !
Fiquemos dias e dias dormindo ao lado dos postes,
nas ruas que são iluminadas todas as noites por estes,
afastando-nos do escuro e atraindo os cães.
Cães que são mais amigos das pulgas do que dos abraços e carinhos.
No nosso carinho caímos,
em um córrego infinito e involuntário.
Não conseguimos viver sem essa razão 
que nos aproxima da morte de emoção.
Não mintas pra nós coração,
sabemos que a razão é só ilusão.   

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Eu posso falar

    Grite.





    Seu grito se comunica com seu coração. Diversas reações químicas e biológicas ocorrem com o deslanchar de um grito. Grite, até que seu grito se torne inaudível. Até que a musica que vem tocando constantemente em sua mente, como uma masturbação mental incessante, se torne o som nítido e claro de um grito. Deixe que sua voz se conecte de tal forma com sua alma, que a realidade perca sentido. Feche os olhos e flutue na sua voz, do mesmo jeito que flutua em um sonho inconsciente. Agora pare.
    Era uma vez um garoto. Este garoto era como todos outros garotos. Ele era feliz. Brincava sozinho, com milhares de amigos imaginários, e vivia mil aventuras em um mísero espaço de um metro quadrado. Ele ainda não tinha aprendido a ser gente grande. Sua vida era toda fantasiosa. Esse garoto não tinha aprendido a ver nem a ouvir, ele tinha aprendido a ser feliz. Ele não se importava com comentários, não se importava com olhares grosseiros, não se importava com os machucados que viam se acumulando em seu joelho. Ele dormia e acordava todos os dias com um sorriso aberto, sem pensar no que ia fazer, mas no que já estava fazendo. Ele se olhava no espelho todo dia de manhã, e ria da sua cara inchada e seu cabelo descabelado. Passava pouquíssimo tempo se arrumando, ele sabia que ia se sujar mais tarde. Ele vivia todos os dias como se fossem eternos dias de sol e animação. Nada, nem mesmo a tristeza, tinha forças pra o invadir. Ele era uma fortaleza impenetrável, fortemente seguro de sua vida.
    Um dia aquele garoto saiu com sua mãe para um passeio pela cidade. Sua mãe ia vestida com roupas de cores mortas. Ela caminhava com o nariz pra cima, olhando sempre pro céu, enquanto segurava o garotinho com uma mão e com a outra uma minuscula bolsinha aonde guardava alguns trocados para comprar seus cigarros. O garoto observava desatento tudo que o rodeava. Ele não conseguia manter o mesmo foco que sua mãe, preferia se concentrar nas poças de água que "brotavam" no chão em sua frente. Sua mãe carregava uma expressão enraivecida no rosto. Ela o puxava constantemente, tentando, sem sucesso, mante-lo quieto. Ele se endireitava momentaneamente, pra em seguida se pendurava no braço de sua mãe. Era uma pequena máquina de vida.
    As pessoas andavam sérias ao seu redor. O olhavam sérios, tentando atingi-lo de alguma forma. Elas queriam demonstrar como a sua atitude era desprezível a seus olhos. Sua mãe ia ficando cada vez mais reclinada e constrangida, com aqueles olhares. Ela tentou se abaixar e falar baixinho com ele, mas ele simplesmente não conseguia se concentrar em repreensões. Ele parava por um segundo enquanto voltavam a caminhar, e em questão de segundos a energia que estava correndo dentro dele se tornava loucura. Uma loucura infantil. E ele começava a pular, e a girar, e a dançar a dança dos pequenos sonhadores. 
    Mais uma vez sua mãe o puxou, mas dessa vez ela parou e olhou firmemente em seus olhos. Ele pequeno e ingenuo, conseguiu entender tudo oque a quele olhar tinha pra dizer, e se constrangeu. Ele não sabia as palavras que tinha que dizer, para explicar o quão certo ele estava ao ficar relutante agindo como doido em frente a tão grande multidão. Incapaz de se defender, se calou e se conformou. Sua mãe, submersa em uma poça de raiva, puxou um maço de cigarro do bolso, e caminhou desatenta em direção a rua. Sendo puxado, ele caminhou sem escolha, mal conseguindo acompanhar os passos grandes da mãe, e muitas vezes, escorregando e caindo pendurado no braço de sua mãe. Sua mãe ia andando focada, nervosa, olhado atenta para frente, tentando, com sua pressa, enfrentar a vergonha que seu filho lhe havia promovido.
    A dois quarteirões dali, um homem gordo de provavelmente quarenta anos, guiava um caminhão desatento. Ele não tinha família, nem mulher, nem preocupações muito sérias. Andava sempre viajando de cidade em cidade, as vezes, pensando ser um aventureiro. Acostumado com tranquilidade do transito da sua cidade natal, se tornou relaxado e desatento, cometendo, as vezes, muitos delitos no transito.
    Esta manhã ele tinha acordado com uma coceira na perna. A malha grossa da sua calça velha pinicava na sua coda. Envolto pela vontade de se coçar e pela tranquilidade,  se estirou um pouco e estendeu a mão pra se coçar e não percebeu que o sinal havia fechado. Continuou conduzindo o caminhão adiante. Assim que ele voltou se deu por si, já era tarde. Ele apertou apressado, com a força dos dois pés, o freio do caminhão, que gritou seus pneus rasgando o silêncio daquela manhã. O caminhão demorou mais do que o dobro do tempo que ele esperava para parar por completo. E quando finalmente o caminhão parou ele se sentou ofegante,  deixando suas pernas descansarem do esforço que tinham feito pressionando o freio do caminhão.  Se recuperando do xoque, tirou o sinto de segurança e desceu do caminhão, evitando chegar com pressa a parte fronteira do ônibus. Ele tinha sentido o impacto, tinha certeza do resultado. Caminhou com medo, até poder ver aquela cena horrorosa. Desviou o olhar com pressa, e deixou escorrer lágrimas de culpa.
    


    A voz mata, a voz da vida. A voz é oque temos de mais precioso. Gritamos diariamente, dentro de nós mesmos com gritos altíssimos de dor, alegria, tristeza, realização. É a forma mais útil que temos de pintar um quadro. Grite. Grite em uníssono com o que te rodeia, e deixe que a vida tome forma através de todas as vogais que pronuncia. Você pode falar.
    A voz de uma criança é expressa pelos olhares. Você tem o dom audível de dizer, então diga, se expresse de forma viva e movimentada.