domingo, 20 de maio de 2012

Lobos brancos



      Uma facada no peito é simplesmente uma facada no peito. Um abraço apertado é simplesmente um abraço apertado. Um olhar forte é simplesmente um olhar forte. Viver é simplesmente querer. 
    A dimensão de tudo que nos rodeia é tão absurdamente grande, que não conseguimos nem tentar imaginar. Seria o ato de mais baixa instrução e ingenuidade tentar explicar aquilo que simplesmente não tem como se explicar. A morte. A vida. A dúvida. A perda. A vontade de gritar desesperado. O surto louco que nossa mente sofre quando se vê presa na jaula da força bruta. O som. O amor. As menores e mais belas gotículas de chuva que caem na relva seca sem serem percebidas. Aquele simples pensamento. Aquele simples ato. Aquelas vezes que o vento não pode levar aquilo que nos levanta e nos faz respirar o ar fresco da esperança. 
     São milhares de armas atirando em alvos aleatórios, sedentos por morte. São lobos de pelo branco e rosto fino que atacam selvagemmente as crianças que brincam na floresta. São os incêndios que partem dos nossos corações que destroem nossas casas. Somos nós. As borboletas do universo. Os vácuos da imaginação. Os espaços entre tudo. A razão da certeza falha. Somos nós. A vontade de esquecer. A vontade de lembrar.
     Na imagem distante nossos olhos se afogam. No cinza da morte nossa vida se descobre multicolor. Na fragilidade dos nossos sentimentos nos sentimos humanos. Na certeza dos nossos atos nós matamos. No mais perdido dos sonhos se encontra a direção. Na mais grotesca ventania se encontra a paz. Com os mais simples corações vivemos os mais duradouros momentos. Porque somos tudo aquilo que temos certeza que somos. Somos tudo o que nunca vamos ser. Tudo aquilo que nos distancia de nós. Tudo aquilo que nos faz acreditar. 
    Com tochas acesas marchamos em direção do horizonte, interminável, inalcançável. Mostrando como nossos olhos brilham de paixão, para nós mesmos. Porque somos todos um só coração que pulsa com o único desejo de podermos ser o que nunca seremos. Eternos.

Nilce


    Era um dia incomum. Os carros não estavam nas ruas, às pessoas estavam quietas e tudo o que parecia circular pelo ar era a paz. O céu estava completamente branco e claro acompanhando o friozinho úmido do ambiente. Algumas poucas pessoas saíam de casa agasalhadas e ficavam na porta da frente observando aquele fenômeno. Mas ficavam ali só alguns momentos para em seguida voltarem para casa e irem cuidar dos seus planos para o dia. Um cachorro latia pro nada, cantarolando, ecoando um despertar de uma manhã calma e pacífica. E assim se encontrava o bairro, em uma eterna calmaria.
    Da ultima casa, antes do final da rua, um mulher saiu de dentro com um livro, em direção a uma cadeira de balanço posicionada no jardim da frente. Ela foi tranquilamente, de luva e nariz vermelho e se sentou na cadeira. Ninguém a viu. Ninguém nem imaginou que uma mulher estivesse ali, naquele momento. Mas ela estava com o mundo inteiro envolta de si. Olhou sorridente pra cima e fechou os olhos em uma espécie de agradecimento. Depois se voltou para o livro que estava em suas mãos e o abriu. Era um livro velho e amarelo que parecia estar guardado há muito tempo. Ela puxou alguns dos fios do seu cabelo branco, que estavam incomodando os olhos, para trás da orelha, enquanto ia folheando cuidadosamente as páginas aquele livro. Passava os a páginas devagar inspecionando cada linha cuidadosamente, procurando por uma parte específica. O livro inteiro estava repleto de rabiscos. Palavras e frases sublinhadas, observações escritas na beirada do livro, pequenos desenhos e maios outros milhares de detalhes todos com a mesma aparência. Ela sorria com alguns desenhos e rabiscos, se lembrando dos momentos em que eles foram colocados ali. Às vezes ela parava e ficava olhando para uma folha sentindo saudades daqueles momentos. Foi folheando o livro até chegar à página que procurava. Ela passou a mão por cima das duas folhas e começou a ler devagar e atentamente:
    “O outono havia chegado àquela tarde. As crianças estavam agitadas, brincando na rua com sua imaginação sem limites. Eu estava ali observando pela janela os seus passinhos apressados. Via a pureza nos seus olhos, a beleza nos seus atos, e era tomada por um sentimento de imensa gratidão. Não saberia mais para que continuar vivendo se não tivesse me tornado mãe. E só podia agradecer. Fechei meus olhos na esperança de sentir um pouco melhor a paixão que viajava dentro de mim. Ah, meus filhos. Como eu os amo. Os amei desde o primeiro momento. Quando seus pequenos olhos se abriram naquela noite maravilhosa, e procuraram os meus, desesperados. Os amei quando choravam todas as noites procurando no braço materno o conforto da noite. Os amei nos seus primeiros passinhos. Eu os amo incondicionalmente.
    Me lembro daqueles fins de tarde que chegava em casa cansada e os encontrava dormindo em seus berços. Lembro de quando esforçavam seus bracinhos e levantavam suas cabeças a todo custo para conseguirem me ver. E porque tão preciosos? Tinham um brilho tão grande nos olhos. Tamanha sinceridade. Lembro dos seus passinhos desajeitados. Me lembro tão bem deles, meus filhos.
    E agora estão aí, na rua, rindo a toa. Posso ver em seus olhos um sonho. Posso ver a perfeição com todos os seus defeitos se refletindo neles da forma mais pura. Banhados por folhas de outono. De olhos perfeitos, meus filhos. Não a nada que eu possa fazer. Amanhã vai nos apartar. Depois de um mês não saberei mais como era os proteger de tudo. Mas estarei aqui, mãe, para sempre.
    Guardem pra si esse coração dourado e venham me contar mais histórias sobre seus olhos. Deixem-me ser sua protetora. Olhem pra mim, onde estão suas mãozinhas? Não há necessidade de amarrar-las. Eu estou aqui. Mamãe. Não precisam forçar os braços fracos, me procurem nos dias, eu vou estar aqui, neste coração dourado.  Eu os amo. Mamãe os ama. Como lágrimas de saudades, eu os amo.  Sou tudo o que posso ser, porque sei que quero ser tudo que puder ser para vocês.
    Abri meus olhos e os vi sentados na sarjeta olhando para a rua. Meus filhos. E naquele silêncio os abracei de longe. Pela janela beijei suas faces. E o sol me banhou mais uma vez com mil gotinhas douradas de uma manhã de outono, eternizando em mim seus corações. Eu os amo. Meus filhos.”
   
    Enxugou as lágrimas e olhou mais uma vez para o livro. Ela nunca havia dado atenção para a história que estava contida naquele livro. Mas aquelas últimas páginas falavam mais do que se podia dizer com meras palavras. Ela acariciou as folhas como se ali estivessem os filhos que tanto amava. Ela foi acompanhando os rabiscos até chegar a uma lista de nomes:
Esther,
Luz,
João,
Clarinha,
Joy,
Gabriel,
Maria Angelica,
Natalia.”
    Ela trouxe o livro para mais perto de sua face e o beijou, um beijo no rosto de cada um dos filhos.  Ela fechou o livro e ficou ali sentada com o coração forte no peito. Sua vida completa. Lembrava de cada detalhe de cada um dos filhos, e amava a todos de formas tão distintas e tão iguais. Sorria. Mesmo com a tristeza que havia tido e com os problemas que a marcaram só conseguia lembrar-se de seus filhos e seus passinhos curtos e apressados. Neles depositou todo amor, todo o tempo, todo carinho e toda a esperança. Foi mãe, além da palavra, foi mãe. Mãe de saudade, mãe de amor, mãe de vida. Foi mãe. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Paixão

    A balança da vida. A vida é uma balança. Ela mede com precisão cada acréscimo e perda que é ocasionado por nossas escolhas. Ela não mede a verdade e a mentira, na realidade, a verdade e a mentira não existem. O peso que nossas vidas tem é medido e nomeado pela sua quantidade de argumentação.
    A vida transpira argumentação. Argumentações ilusórias, subjetivas, involuntárias, irracionais e tangíveis. Nós somos aquilo que pensamos, mas por que ? A vida, assim como a morte, é aquilo que nunca vamos saber explicar mas sempre vamos ter em nossas mãos. O que nos resta é tentarmos alimentar nossos atos com a lucidez do raciocínio. Entendermos que somos loucos, e por isso nunca seremos lúcidos. Entendermos também que não temos cura, mas aquilo que nos faz acalmar a noite é a argumentação, devorando, em golpes violentos, as emoções sujas que infectam nossas mentes. 
    Existimos e ponto. Existimos e exclamação. Existirmos por pensarmos que existimos, e se não, pelo menos habitamos na ideia da existência. Na realidade, no inexistente se forma o mundo. O mundo sou eu, o mundo é você. O mundo, a existência, a consciência, é tudo resposta de uma ideia gerada pelos nossos sentidos físicos. Sinto, logo não penso. Por que sempre que penso me ausento do sentimento, e sempre que sinto não consigo pensar. A declaração do eu, é uma ideia. Eu sou menor, como você. Você sou eu, mas eu nunca serei você. Por isso assassino o mundo inteiro quando deixo que a minha loucura se torne crônica, e cometo o ato involuntário da morte. Assim como roubo o mundo quando tento te tocar. A razão,a consciência, o resto é resultado. As suas constantes reclamações são uma falha na realidade, por que você sou eu. E amarrado, com as mãos dentro de minha boca, sou privado do poder de conduzir a minha realidade, que se move com os próprios pés.
    E posso assistir. Assistir a minha realidade ser tratada como loucura. Eu posso assistir, enquanto meus olhos estão fechados, o ritual da vida sendo registrado pela minha mente, a final, ele reside em mim. Sou o meu mais íntimo telespectador, observando cada detalhe de um quadro que fui chamado para pintar.
    Só me restam as palavras. Meus argumentos, minha lógica, tudo que me forma, descansa nas letras e nos pontos dos textos que escrevo. Sou meu mais terrível inimigo e mais próximo amigo. Sou o absoluto nada. Sou as palavras ditas ao vento. Sou eu, sou você. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Vai ver...

Bruna Brustulin:

Vai ver isso é apenas o estopim, vai ver ainda tem muita coisa pra acontecer, vai ver eu ainda não vi nem a metade, e realmente a gente só aprende com a nossa própria experiência, e aquela coisa de pegar pra si o erro dos outros é história pra boi dormir, vai ver estou só me equivocando, e falando um monte de bobagem, ou vai ver que isso não é viajem e sim, a mais pura verdade, como pode ser ? algo tão complexo... mas tão fácil por outro lado, o lado emocional, realmente o que eu preciso eu não tenho certeza  se é o que eu quero !

Gabriel David:

Vai ver o sol brilha todo dia, vai ver não importa aquilo que nunca passou por nossa mente, vai ver nós somos apenas o reflexo do que os nossos olhos vêem. As histórias nunca são certas,  a realidade nunca é uma. Vai ver não é nem a vaidade que rege nossas vidas e sim o medo. Vai ver somos frágeis. Somos pequenos, frágeis e singelos reprimidos. Revolucionários da paixão. Apenas esperando que uma bandeira se levante por nós, para que possamos lutar, com vigor, por aquilo que é delicado. Só queremos um coração. Um abraço. Um par de olhos. Queremos um céu completamente azul que sempre nos chame a atenção com sua demonstração de eternidade. Queremos entender e saber. Mas não sabemos, e nunca vamos saber. Porém, lá no fundo, no âmago de cada sentimento passageiro, lateja a vontade desesperada de termos alguém que nos conheça de forma tão íntima que nossa mente se feche, e que nunca mais pense em nada que se relacione a futilidades tristonhas. Alguém que com poucas palavras e gestos saiba dizer: Vai ver eu só preciso de você !

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A razão é só ilusão

E disse mais uma vez o poeta:
"Ninguém morre por morrer,
morre por ter deixado a alma morrer."
Os olhos só vem aquilo que querem ver,
a boca só fala oque o coração tem a dizer.
Caminhamos apenas por medo de ficarmos parados,
morremos sentados, calados,
sem sentir, nem ouvir, nem saber,
e sem tudo isso, acabamos sem ser.
Somos!
Uma mera imagem 
que reflete o tempo passado, e se conecta com
oque não se vê.
Se sabemos que existe,
se persistimos em acreditar que por detrás de cada coração, 
existe uma noção 
ilusória da razão,
não passamos de uma fonte escassa de, nada mais e nada menos, 
do que apenas pedras que rolam 
até a base do infinito.
Girando em uma rota infinita,
que não possuí um começo e nem um fim,
e se existir o alcance final, 
o que nos resta é o nada,
é apenas aquilo que foi,
e por isso é !
Só ingerimos uma vez,
aquilo que se fala,
e aquilo que se fala,
só atinge, e só afeta, uma vez,
as artérias do sentimento.
A profundidade de cada toque suave se acumula 
em uma gigantesca vontade.
Ímpeto de movimentos constantes. 
Todos nós corremo atrás dos nossos
próprios rabos, que escapam a nossa visão.
( não ) sabemos olhar pra frente se existem abas!
Atrás sempre vem gente, e não sabemos como
dizer adeus, até que saibamos 
o que fica, e o que vai, nessa morte sentimental,
onde os olhos, ficam abertos, e as mãos não.
Falemos não, a cada palavra cuspida pelo vento,
nos obrigando a seguir.
Paremos!
Não mais.
Porque vontade
não é mais querer, 
e sim, fazer !
Fiquemos dias e dias dormindo ao lado dos postes,
nas ruas que são iluminadas todas as noites por estes,
afastando-nos do escuro e atraindo os cães.
Cães que são mais amigos das pulgas do que dos abraços e carinhos.
No nosso carinho caímos,
em um córrego infinito e involuntário.
Não conseguimos viver sem essa razão 
que nos aproxima da morte de emoção.
Não mintas pra nós coração,
sabemos que a razão é só ilusão.   

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Eu posso falar

    Grite.





    Seu grito se comunica com seu coração. Diversas reações químicas e biológicas ocorrem com o deslanchar de um grito. Grite, até que seu grito se torne inaudível. Até que a musica que vem tocando constantemente em sua mente, como uma masturbação mental incessante, se torne o som nítido e claro de um grito. Deixe que sua voz se conecte de tal forma com sua alma, que a realidade perca sentido. Feche os olhos e flutue na sua voz, do mesmo jeito que flutua em um sonho inconsciente. Agora pare.
    Era uma vez um garoto. Este garoto era como todos outros garotos. Ele era feliz. Brincava sozinho, com milhares de amigos imaginários, e vivia mil aventuras em um mísero espaço de um metro quadrado. Ele ainda não tinha aprendido a ser gente grande. Sua vida era toda fantasiosa. Esse garoto não tinha aprendido a ver nem a ouvir, ele tinha aprendido a ser feliz. Ele não se importava com comentários, não se importava com olhares grosseiros, não se importava com os machucados que viam se acumulando em seu joelho. Ele dormia e acordava todos os dias com um sorriso aberto, sem pensar no que ia fazer, mas no que já estava fazendo. Ele se olhava no espelho todo dia de manhã, e ria da sua cara inchada e seu cabelo descabelado. Passava pouquíssimo tempo se arrumando, ele sabia que ia se sujar mais tarde. Ele vivia todos os dias como se fossem eternos dias de sol e animação. Nada, nem mesmo a tristeza, tinha forças pra o invadir. Ele era uma fortaleza impenetrável, fortemente seguro de sua vida.
    Um dia aquele garoto saiu com sua mãe para um passeio pela cidade. Sua mãe ia vestida com roupas de cores mortas. Ela caminhava com o nariz pra cima, olhando sempre pro céu, enquanto segurava o garotinho com uma mão e com a outra uma minuscula bolsinha aonde guardava alguns trocados para comprar seus cigarros. O garoto observava desatento tudo que o rodeava. Ele não conseguia manter o mesmo foco que sua mãe, preferia se concentrar nas poças de água que "brotavam" no chão em sua frente. Sua mãe carregava uma expressão enraivecida no rosto. Ela o puxava constantemente, tentando, sem sucesso, mante-lo quieto. Ele se endireitava momentaneamente, pra em seguida se pendurava no braço de sua mãe. Era uma pequena máquina de vida.
    As pessoas andavam sérias ao seu redor. O olhavam sérios, tentando atingi-lo de alguma forma. Elas queriam demonstrar como a sua atitude era desprezível a seus olhos. Sua mãe ia ficando cada vez mais reclinada e constrangida, com aqueles olhares. Ela tentou se abaixar e falar baixinho com ele, mas ele simplesmente não conseguia se concentrar em repreensões. Ele parava por um segundo enquanto voltavam a caminhar, e em questão de segundos a energia que estava correndo dentro dele se tornava loucura. Uma loucura infantil. E ele começava a pular, e a girar, e a dançar a dança dos pequenos sonhadores. 
    Mais uma vez sua mãe o puxou, mas dessa vez ela parou e olhou firmemente em seus olhos. Ele pequeno e ingenuo, conseguiu entender tudo oque a quele olhar tinha pra dizer, e se constrangeu. Ele não sabia as palavras que tinha que dizer, para explicar o quão certo ele estava ao ficar relutante agindo como doido em frente a tão grande multidão. Incapaz de se defender, se calou e se conformou. Sua mãe, submersa em uma poça de raiva, puxou um maço de cigarro do bolso, e caminhou desatenta em direção a rua. Sendo puxado, ele caminhou sem escolha, mal conseguindo acompanhar os passos grandes da mãe, e muitas vezes, escorregando e caindo pendurado no braço de sua mãe. Sua mãe ia andando focada, nervosa, olhado atenta para frente, tentando, com sua pressa, enfrentar a vergonha que seu filho lhe havia promovido.
    A dois quarteirões dali, um homem gordo de provavelmente quarenta anos, guiava um caminhão desatento. Ele não tinha família, nem mulher, nem preocupações muito sérias. Andava sempre viajando de cidade em cidade, as vezes, pensando ser um aventureiro. Acostumado com tranquilidade do transito da sua cidade natal, se tornou relaxado e desatento, cometendo, as vezes, muitos delitos no transito.
    Esta manhã ele tinha acordado com uma coceira na perna. A malha grossa da sua calça velha pinicava na sua coda. Envolto pela vontade de se coçar e pela tranquilidade,  se estirou um pouco e estendeu a mão pra se coçar e não percebeu que o sinal havia fechado. Continuou conduzindo o caminhão adiante. Assim que ele voltou se deu por si, já era tarde. Ele apertou apressado, com a força dos dois pés, o freio do caminhão, que gritou seus pneus rasgando o silêncio daquela manhã. O caminhão demorou mais do que o dobro do tempo que ele esperava para parar por completo. E quando finalmente o caminhão parou ele se sentou ofegante,  deixando suas pernas descansarem do esforço que tinham feito pressionando o freio do caminhão.  Se recuperando do xoque, tirou o sinto de segurança e desceu do caminhão, evitando chegar com pressa a parte fronteira do ônibus. Ele tinha sentido o impacto, tinha certeza do resultado. Caminhou com medo, até poder ver aquela cena horrorosa. Desviou o olhar com pressa, e deixou escorrer lágrimas de culpa.
    


    A voz mata, a voz da vida. A voz é oque temos de mais precioso. Gritamos diariamente, dentro de nós mesmos com gritos altíssimos de dor, alegria, tristeza, realização. É a forma mais útil que temos de pintar um quadro. Grite. Grite em uníssono com o que te rodeia, e deixe que a vida tome forma através de todas as vogais que pronuncia. Você pode falar.
    A voz de uma criança é expressa pelos olhares. Você tem o dom audível de dizer, então diga, se expresse de forma viva e movimentada.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Simplicidade

    E tudo gira. Gira em torno de uma só razão, inimaginável, seguindo trajetos infinitos sem começo nem fim. Nesse meio termo, da vida e a morte, da razão e a loucura, até a própria simplicidade é fruto de um pensamento veterano, que costuma flutuar por entre as mentes. Mentes que se curvam a difícil tarefa de entender o que é impossível entender.
    Não é realmente saber, é querer saber. A verdade é só uma ideia, e não passa de uma ideia. A real verdade, a noção vazia mas fervorosa que guardamos dentro de nós mesmo, é simplesmente um ponto de vista. É apenas um ponto de vista, em uma vastidão infinita de pensamentos e opiniões. Não existe sim, e não existe não. Existe apenas aquilo que eu entendo, todo resto é outra realidade inexistente que, não chega a alcançar minha mentes.
    Meus olhos, minhas mãos, minha boca. Eu. Eu nunca serei, diferente do que já sou, porque caminho involuntariamente na direção do vento. Nunca vou ver, ou falar, ou sentir, as mesmas coisas que você. E a minha verdade se baseia nisso. Eu, sou apenas eu, e mais ninguém.
    A experiencia que o tempo me entregou, é alternativa. Não sou maior, nem menor, que ninguém. Sou apenas um ser consciente, que senta no purgatório da vida, esperando que algum dia se revele o espetáculo inimaginável da existência em mim. Sou diferente, igual a todos. Piso no mesmo chão, respiro o mesmo ar. Só que, só vejo o que você nunca vai ver, nem com os seus próprios. Porque só eu sou eu, e só você é você.
    Dentro de mim existe uma fábrica que modela tudo que me sou. Ela transforma tudo o que não sou, em tudo que me torno, e tudo que vou ser. A experiencia não passa de uma noção física do mundo. Ela só nos faz entender aquilo que nunca vamos conseguir experimentar. Mas dentro de mim também existe um ventriloco que, comanda que eu viva. Que me faz amar, e chorar. E dentro de mim, sou formado como alguém que é, mas nunca será. Eu estou dentro daquilo que nunca vai fazer parte de mim, mas aquilo que faz com que eu seja. Sou meu manipulador. Me influenciando e persuadindo. Eu me esfaqueio ou, me acaricio. Eu, e nada além de mim, me faz sentir. Porque até a simplicidade de um piscar de olhos, é meu. Meu porque eu vi. Meu porque eu fiz.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Peso.

    E o que acontece ? O que pode acontecer ?  Será que vou ter que viver o resto da minha vida condenado a viver uma fantasia dentro da minha mente ? O que é ? O que será ?
    Ser ou não ser, são apenas perguntas, mas e o que é ? Como alguém pode dizer, ou saber, o que vai ser de si mesmo ? Todos remando desesperados contra a correnteza que nos leva pra caminhos que não queremos ir. Somos todos cachorros correndo atrás do próprio rabo. Andando lentamente, tentando se equilibrar na sarjeta da vida, vamos sempre nos desequilibrar, e só podemos ter a certeza de que não vamos cair se tivermos uma mão, um coração, uma mente, uma vida, algo que nos segure antes de nós cairmos. Então, não é tudo ilusão ! O trem corre sempre pra frente, enquanto que nos somos levados sem nem sentirmos o quão rápido corremos. Só vamos equilibrar nossa montanha de idéias se nos sustentarmos em um chão. Afinal, o que é uma corrente sem um com um pedaço quebrado ? Tudo se conecta, involuntariamente, de forma surpreendente. E o que podemos fazer ? Bem, nós podemos seguir o ritmo, parar de remar em um caminho contrário, e simplesmente seguir a correnteza.
    Mas e agora ? Todo meu suporte, se foi. Caiu na "vala do nunca", pra nunca mais voltar. E eu ? Eu simplesmente caio, e nunca mais volto. Não volto nunca mais para o mesmo momento. Não canto nunca mais  as mesmas canções. Não cheiro nunca mais as flores que me dopam com perfumes pesados e enjoentos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

vou apenas dizer...

    Eu vivo foleando folhas arquivadas em minha memória. São arquivos que contém memórias que me fazem rir e chorar. Arquivos de memórias que embora estejam no passado, constituem o presente.
   Eu sou um masoquista, sempre me ferindo com uma dor passada. Uma dor que está encravada no meu coração como um espinho. Uma dor que eu mesmo criei, que eu mesmo incentivei. Uma dor gerada pelo assassinato a sangue frio da sinceridade. Eu amo essa dor. Ela carrega no seu sofrimento a lembrança de algo lindo e verdadeiro. E por mais que eu queira esquecer ou largar, isso se tornou parte de mim. Como que eu posso querer aquilo que eu mesmo não quis ? Eu não posso largar aquilo que eu teimo em carregar. Uma bagagem tão delicada. Tão grande. Tão forte.
    Eu sou apenas uma criança tentando andar em sima de uma sarjeta sem me desequilibrar. Sou um viajante perdido na minha própria mente. Eu sou imperfeito. Ao ponto deixar morrer algo que jorrava vida, e amor, e beleza. Sou o imperfeito perfeito, cheio de erros defeitos e falhas . Sim eu realmente sou tudo isso. Sou solitário. Rodeado de pessoas só tenho um coração pra escutar. Onde eu encontro outro peito onde eu posso reclinar e ouvir as batidas mansas de um coração que ama ? Eu procuro incessantemente um olhar perdido em um rosto meigo. Procuro desesperado alguém que quer partilhar comigo suas idéias e sonhos. Carente ? Não, não ... Apaixonado !
    Sim, sou apaixonado. Sou um recipiente que transborda da vontade de te ver. Tenho a vontade calorosa de te dizer que eu sinto muito, errei, e na realidade, não sei nem como consertar o que fiz. Sou simples mente muito perdido, mas sou sincero. Se eu estiver embriagado de emoção, que seja. Quero beber desse vinho que me deixa a mil todos os dias. Quero poder dizer que amo, sem pestanejar, sem me preocupar e sem mentir.
    No fundo, eu quero seu bem. Quero que a vida descida oque há de ser. Que se for ter você ao meu lado, não posso dizer que vai ser melhor, mas, posso dizer que vai sempre viver uma paixão. Vai viver dentro de um frasco cheio de borboletas. Vai viver dentro de um coração vermelho que pulsa com uma força tremenda. Vai viver como a natureza vive ao nosso redor. E vai estar sempre comigo, estando nós juntos ou não.
    No meu medo de errar eu perco o que eu poderia ter ganho, por isso que falo aqui destemido e abertamente. Sou apenas um pobre apaixonado, tentando te dizer, como eu gosto de você. Eu errei, sempre vou errar. Mas hoje eu tomo a decisão, não quero deixar isso morrer.



                         " O coração tem razões que a própria razão desconhece " ( Descartes )

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nunca vamos entender.

     Realmente nunca vamos entender. Nunca vamos entender nossos atos e palavras, nunca vamos conseguir descobrir porque continuamos a ser tão ingênuos. Nuca vamos saber o que nos espera, nunca vamos conseguir descobrir o que está oculto, não vamos conseguir retroceder nem avançar, não vamos saber mais como nossas vidas devem andar.
    Nunca vamos pensar na morte em quanto a vida dança ao nosso redor. Nunca vamos dormir sem pensar no amanhã. Nunca vamos olhar pro céu sem nos admirarmos. Nunca vamos deixar de amar, ingênuamente, cada sentimento alegre que invade nossos corações.
    Realmente nunca vamos entender.  Por mais que tentemos, nosso coração nunca vai parar de bater nesse ritmo descompassado que nos faz querer viver.