quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Simplicidade

    E tudo gira. Gira em torno de uma só razão, inimaginável, seguindo trajetos infinitos sem começo nem fim. Nesse meio termo, da vida e a morte, da razão e a loucura, até a própria simplicidade é fruto de um pensamento veterano, que costuma flutuar por entre as mentes. Mentes que se curvam a difícil tarefa de entender o que é impossível entender.
    Não é realmente saber, é querer saber. A verdade é só uma ideia, e não passa de uma ideia. A real verdade, a noção vazia mas fervorosa que guardamos dentro de nós mesmo, é simplesmente um ponto de vista. É apenas um ponto de vista, em uma vastidão infinita de pensamentos e opiniões. Não existe sim, e não existe não. Existe apenas aquilo que eu entendo, todo resto é outra realidade inexistente que, não chega a alcançar minha mentes.
    Meus olhos, minhas mãos, minha boca. Eu. Eu nunca serei, diferente do que já sou, porque caminho involuntariamente na direção do vento. Nunca vou ver, ou falar, ou sentir, as mesmas coisas que você. E a minha verdade se baseia nisso. Eu, sou apenas eu, e mais ninguém.
    A experiencia que o tempo me entregou, é alternativa. Não sou maior, nem menor, que ninguém. Sou apenas um ser consciente, que senta no purgatório da vida, esperando que algum dia se revele o espetáculo inimaginável da existência em mim. Sou diferente, igual a todos. Piso no mesmo chão, respiro o mesmo ar. Só que, só vejo o que você nunca vai ver, nem com os seus próprios. Porque só eu sou eu, e só você é você.
    Dentro de mim existe uma fábrica que modela tudo que me sou. Ela transforma tudo o que não sou, em tudo que me torno, e tudo que vou ser. A experiencia não passa de uma noção física do mundo. Ela só nos faz entender aquilo que nunca vamos conseguir experimentar. Mas dentro de mim também existe um ventriloco que, comanda que eu viva. Que me faz amar, e chorar. E dentro de mim, sou formado como alguém que é, mas nunca será. Eu estou dentro daquilo que nunca vai fazer parte de mim, mas aquilo que faz com que eu seja. Sou meu manipulador. Me influenciando e persuadindo. Eu me esfaqueio ou, me acaricio. Eu, e nada além de mim, me faz sentir. Porque até a simplicidade de um piscar de olhos, é meu. Meu porque eu vi. Meu porque eu fiz.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Peso.

    E o que acontece ? O que pode acontecer ?  Será que vou ter que viver o resto da minha vida condenado a viver uma fantasia dentro da minha mente ? O que é ? O que será ?
    Ser ou não ser, são apenas perguntas, mas e o que é ? Como alguém pode dizer, ou saber, o que vai ser de si mesmo ? Todos remando desesperados contra a correnteza que nos leva pra caminhos que não queremos ir. Somos todos cachorros correndo atrás do próprio rabo. Andando lentamente, tentando se equilibrar na sarjeta da vida, vamos sempre nos desequilibrar, e só podemos ter a certeza de que não vamos cair se tivermos uma mão, um coração, uma mente, uma vida, algo que nos segure antes de nós cairmos. Então, não é tudo ilusão ! O trem corre sempre pra frente, enquanto que nos somos levados sem nem sentirmos o quão rápido corremos. Só vamos equilibrar nossa montanha de idéias se nos sustentarmos em um chão. Afinal, o que é uma corrente sem um com um pedaço quebrado ? Tudo se conecta, involuntariamente, de forma surpreendente. E o que podemos fazer ? Bem, nós podemos seguir o ritmo, parar de remar em um caminho contrário, e simplesmente seguir a correnteza.
    Mas e agora ? Todo meu suporte, se foi. Caiu na "vala do nunca", pra nunca mais voltar. E eu ? Eu simplesmente caio, e nunca mais volto. Não volto nunca mais para o mesmo momento. Não canto nunca mais  as mesmas canções. Não cheiro nunca mais as flores que me dopam com perfumes pesados e enjoentos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

vou apenas dizer...

    Eu vivo foleando folhas arquivadas em minha memória. São arquivos que contém memórias que me fazem rir e chorar. Arquivos de memórias que embora estejam no passado, constituem o presente.
   Eu sou um masoquista, sempre me ferindo com uma dor passada. Uma dor que está encravada no meu coração como um espinho. Uma dor que eu mesmo criei, que eu mesmo incentivei. Uma dor gerada pelo assassinato a sangue frio da sinceridade. Eu amo essa dor. Ela carrega no seu sofrimento a lembrança de algo lindo e verdadeiro. E por mais que eu queira esquecer ou largar, isso se tornou parte de mim. Como que eu posso querer aquilo que eu mesmo não quis ? Eu não posso largar aquilo que eu teimo em carregar. Uma bagagem tão delicada. Tão grande. Tão forte.
    Eu sou apenas uma criança tentando andar em sima de uma sarjeta sem me desequilibrar. Sou um viajante perdido na minha própria mente. Eu sou imperfeito. Ao ponto deixar morrer algo que jorrava vida, e amor, e beleza. Sou o imperfeito perfeito, cheio de erros defeitos e falhas . Sim eu realmente sou tudo isso. Sou solitário. Rodeado de pessoas só tenho um coração pra escutar. Onde eu encontro outro peito onde eu posso reclinar e ouvir as batidas mansas de um coração que ama ? Eu procuro incessantemente um olhar perdido em um rosto meigo. Procuro desesperado alguém que quer partilhar comigo suas idéias e sonhos. Carente ? Não, não ... Apaixonado !
    Sim, sou apaixonado. Sou um recipiente que transborda da vontade de te ver. Tenho a vontade calorosa de te dizer que eu sinto muito, errei, e na realidade, não sei nem como consertar o que fiz. Sou simples mente muito perdido, mas sou sincero. Se eu estiver embriagado de emoção, que seja. Quero beber desse vinho que me deixa a mil todos os dias. Quero poder dizer que amo, sem pestanejar, sem me preocupar e sem mentir.
    No fundo, eu quero seu bem. Quero que a vida descida oque há de ser. Que se for ter você ao meu lado, não posso dizer que vai ser melhor, mas, posso dizer que vai sempre viver uma paixão. Vai viver dentro de um frasco cheio de borboletas. Vai viver dentro de um coração vermelho que pulsa com uma força tremenda. Vai viver como a natureza vive ao nosso redor. E vai estar sempre comigo, estando nós juntos ou não.
    No meu medo de errar eu perco o que eu poderia ter ganho, por isso que falo aqui destemido e abertamente. Sou apenas um pobre apaixonado, tentando te dizer, como eu gosto de você. Eu errei, sempre vou errar. Mas hoje eu tomo a decisão, não quero deixar isso morrer.



                         " O coração tem razões que a própria razão desconhece " ( Descartes )

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nunca vamos entender.

     Realmente nunca vamos entender. Nunca vamos entender nossos atos e palavras, nunca vamos conseguir descobrir porque continuamos a ser tão ingênuos. Nuca vamos saber o que nos espera, nunca vamos conseguir descobrir o que está oculto, não vamos conseguir retroceder nem avançar, não vamos saber mais como nossas vidas devem andar.
    Nunca vamos pensar na morte em quanto a vida dança ao nosso redor. Nunca vamos dormir sem pensar no amanhã. Nunca vamos olhar pro céu sem nos admirarmos. Nunca vamos deixar de amar, ingênuamente, cada sentimento alegre que invade nossos corações.
    Realmente nunca vamos entender.  Por mais que tentemos, nosso coração nunca vai parar de bater nesse ritmo descompassado que nos faz querer viver.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Monstro e o... monstrinho.

    " Papai quando eu crescer quero ser igualzinho a você ! " a voz fina de uma criança emitia aquela frase com a mais pura inocência . Ela encarava o seu pai esperando algum tipo de reação que lhe servisse de resposta.
    Seu pai olhou aquela minuscula pessoa, com os olhos cheios de lágrimas. Ela não entendeu, mas o semblante do seu pai expressava agonia, e não orgulho como ela esperava. Aquele homem absurdamente alto olhou pro seu filho com tristeza.
    " .. fico feliz filho... " ele falou sem um pingo de sinceridade.
    Enxugou as lágrimas e continuou a caminhar com seu filho do lado. Os dois iam ao açougue comprar dois quilos de carne. Se tratava de um tipo diferente de família. O pai era um homem com um rosto naturalmente agressivo, de altura absurda, e com uma tonalidade de pele meio esverdeada. O garotinho,  aparentemente filho daquela criatura grotesca , possuía os mesmos traços que o pai, mas com características de uma criança ainda em desenvolvimento.
    O garoto ficou em silêncio, percebendo que seu comentário não tinha sido muito construtivo, como ele esperava. Eles dois atravessaram a rua e entraram no açougue. Via-se no rosto do menino uma devoção fervorosa, enquanto ponderava acerca da situação que tinha acabado de criar. Ele estava tentando entender o que possivelmente teria dito errado.
    " Dois quilos de coxa, por favor . " o homenzarrão pediu meio roboticamente ao açougueiro.
    O açougueiro sem parar pra observar a fisionomia desproporcional do homem, foi para o deposito de carne a procura do pedido que lhe foi feito. Aquele gigantesco homem esperou apoiando seus braços no balcão. Seu coração ainda pesava com aquele comentário tão inocente. Lágrimas rolaram mais uma vez daqueles olhos amarelados.
    Ele lembrou que a muito tempo atrás ele tinha dito a mesma coisa pro seu pai. Sempre se arrependeu daquele momento. Um sonho tão normal e inocente se tornou um sinônimo de loucura. No decorrer da sua vida ele viu coisas que, nenhum ser vivente, com a capacidade de sonhar, devia ter visto. Mas o que ele podia fazer ? Era parte da natureza do seu pai. Massacres sanguinários, mutilações e morte, era o que lhe vinha a cabeça ao lembrar da figura paterna. Nunca conseguiu entender. Seu pai, aquele homenzarrão que sempre fora seu exemplo de vida, era um monstro. Preferiria não lembrar dos momentos alegres, eles sempre traziam uma decepção por detrás deles. Era horrível. Sempre havia sonhado em ser alguém feliz, sem preocupações, com uma postura séria e responsável igual seu pai. Descobriu que era tudo ilusão.
    Aquelas memórias o vinham corroendo por dentro deixando detritos de insanidade em sua consciência. Como podia alguém nascer com a capacidade de sonhar ser algo, que sua própria natureza impedia ? Incapaz : era a resposta automática que sua mente enviava pra todas suas perguntas e vontades. Era inútil lutar contra um instinto. Ele simplesmente cansou de tentar ser algo, e se tornou nada. Movido sempre por um piloto automático que o dizia o que fazer, ele obedecia sem pestanejar. Vivia morto dentro de si mesmo. Era um monstro.
    O açougueiro, absurdamente pálido, voltou com o pedido do homem. O homenzarrão acordou de uma viajem dentro dos seus pensamentos, e olhou instintivamente pro açougueiro que pesava a carne. Após pesar, o açougueiro lhe integrou a carne já paga, e ele saiu com seu filho do açougue. O garoto perseguia uma borboleta com seus olhos, enquanto ele e seu pai iam em direção a rua. Nenhum tipo de pensamento difícil e sério voava pela mente daquela pequena criatura, ele interagia normalmente com seu coração, enquanto, seu coração interagia explosivamente com a imagem da borboleta colorida que voava.
    O homem sorriu levemente vendo seu filho viver uma paixão tão bonita. Infância, berço dos tesouros que nos enriquecem de alegria. Eles dois esperavam uma oportunidade para atravessar a rua movimentada, enquanto ele se deixou guiar pelos pensamentos mais uma vez. Na verdade ele queria que tudo acabasse, mas como ? Ele sabia que algum dia iria, e por isso se permitia viver na esperança de que algum dia tudo mudasse. Mas escondido dentro do seu coração dormia o medo, medo de ver seu filho querer ser o que ele nunca seria capaz de se tornar. Ele tinha medo de ver os olhos do seu filho se inundarem de dor. Seu maior sonho era ver que a partir dele uma linhagem de beleza marcasse a natureza absurda da sua espécie. Ele se segurava em algo tão fantasioso que, não depositava nem esperança. Mas ele tinha que esperar. Sempre que olhava os olhos pequenininhos do seu filho abrirem de manhã, ele acreditava. Nada era mais bonito do que ver a vida correr livre dentro dele. Não tinha nenhuma sensação igual a de segurar ele nos braços e ver que, dentro daqueles minúsculos olhos brilhava a crença de que a vida é feliz.
    O sinal fechou e os dois atravessaram a rua. Iam pai e filho um do lado do outro, atravessando a rua e sorrindo. Sorriam porque a natureza não tinha força para impedir a beleza que morava neles. Sorriam por que embora sem esperança tinha um ao outro, e juntos sustentavam suas certezas e seus sonhos.